out 17, 2010 - Poesia    3 Comments

Dia do Médico

Falas de amor , e eu ouço tudo e calo!

O amor da humanidade é uma mentira.

É. E é por isto que na minha lira

De amores fúteis pucas vezes falo.

(Idealismo – Augusto dos Anjos)



Que há para festejar

Neste mundo de especialistas?

De técnicos e aparelhistas?

Se o médico na poeira do passado está!

›Ÿš∞ • ∞›Ÿš›Ÿš

Quanta hipocrisia – clama Hipócrates,

Quanta incultura – reclama Castro,

Couto não aprova o sistema nefasto

Que a doença agrava e causa mortes.

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Se o paciente é celebridade,

Para assisti-lo, médicos mil…

Se é pobre, tratamento vil…

Neste sistema de perversidade.

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O humanismo da medicina desertou,

Para o comércio da doença prosperar.

O indivíduo é apenas peça segmentar

Em mãos que lhe desdenham a dor.

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De convênios acata o profissional

O preceito mais ordinário:

O estipêndio é tabela e não honorário!

Subverte-se a honra nessa incúria monumental…

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Se comemorar é manter a memória

De lembranças vivas do que já não é,

Comemoro a medicina que despertava fé,

O Humanismo – do médico passada glória.

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Não quero laurel, nem ufania!

Se um no conforto convalesce,

Outro no desamparo padece,

Como hei de festejar esse dia?

∞ • ∞›Ÿš›Ÿš

Salvador, 18 de outubro de 2001

Castro: Francisco de Castro

Couto: Miguel Couto

Humanistas, literatos. Primazias da cultura médica.

3 Comments

  • Mestre Fernando Guedes,
    Perfeito!
    Peço a sua autorização para divulgar em jornal local.

    • Prezado amigo Mosca,

      Obrigado pelo seu comentário. Tem a minha permissão para publicar.

      Abraço-o.

      Fernando

  • Não restam dúvidas de Fernando Guedes assume a literatura como ficção e experiência de maneira indissociável. Nesse sentido, sua escrita passa a ser o testemunho de um sujeito que arrasta toda carga afetiva para o poema, tendo como critério de legitimação tudo o que vem do vivido, criando assim uma unidade apaixonada entre a obra e a vida. No entanto, convém ressaltar que esse vivido não se refere à construção de uma obra com a matéria da própria vida do poeta, como acreditavam os românticos, mas no sentido do poeta trágico moderno rimbaudiano em que o Eu é um Outro e a arte poética um encontro explosivo de vida e poesia, isto é, uma arte que nasce “do choque duma sensibilidade sólida ao contato com a realidade”.

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