“O que querem as mulheres?”
Em 2000, pelo dia da Mulher, pediram-me, na Petrobrás, para escrever uma mensagem, tomando como tema a pergunta: “O que querem as mulheres?”, que Freud teria feito deixando-a sem resposta. Como vejo na mulher, ao contrário do senso comum, um ser previsível, escrevi o meu parecer…
Como, agora, a TV Globo, está anunciando uma série com esse título, achei que devia publicar o que escrevi em 8/3/2000:
Dizem que Freud fez essa pergunta a si mesmo, e nunca a respondeu. Ignoro o contexto dessa pergunta e as razões que o levaram a deixá-la sem resposta…
Certamente não foi por lhe faltar imaginação, mas acredito que não o faria sem penetrar no seu estranho mundo dos complexos.
De mim, acho que não é difícil acudir a esta indagação, se entender a mulher como uma criatura comum, que pensa como pensam os homens. Não será, portanto, necessário recorrer ao nebuloso mundo da psicanálise, para lhe destrinçar os complexos; nem à fisiologia, para lhe apontar diferenças orgânicas. A mulher pensa, e é o bastante para se saber o que ela quer.
De um modo geral, acho que a mulher busca, consciente ou não, a afirmação de sua individualidade, isto é: ser tratada e entendida como indivíduo, porque o resto são acessórios culturais, que, no fluir das civilizações, se ajuntam ao processo da existência. Aí varia, de lugar para lugar, de época para época, das circunstâncias, do momento histórico, porque essas condicionantes suscitam, nos indivíduos, desejos vários.
Que queria Maria ao assistir a seu filho marchar sob o peso do próprio cadafalso? Apenas poder para diminuir-lhe o sofrimento. Bem diferente de Cleópatra, tomada pelo desejo de conquistas mil, inclusive amorosas. Que queria Agar, para dar a Ismael? Apenas o leite do pranto, para matar-lhe a fome. Que quer Xuxa, para dar a Sasha? O ouro do mundo, quem sabe… Que queria Salomé, na sua louca luxúria? Na bandeja, a cabeça do Batista. Que queria Florence Nightingale, sendo rica, ao ir servir espontaneamente na Criméia? Com a lâmpada da sua extrema bondade, salvar vidas. Que queria Pompéia Paulina diante da sentença de morte de Sêneca? Apenas não lhe negar, na hora extrema, a sua companhia, e morrer com ele, como prova de um extremo amor. E Imelda Marcos, que queria? Milhares de pares de sapatos, para calçarem os pés de sua extrema vaidade. E a pobre Angolana, que deseja? Apenas liberdade, para poder pisar, descalça, o seu amado solo, sem que minas lhe ceifem a vida. Como vêem, os desejos são diversos, porque as mulheres são indivíduos, e o que elas querem é apenas QUERER.
Fernando Guedes
Homenagem à Mulher, no seu dia.
8/3/2000