Dia do Médico
Falas de amor , e eu ouço tudo e calo!
O amor da humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis pucas vezes falo.
(Idealismo – Augusto dos Anjos)
Que há para festejar
Neste mundo de especialistas?
De técnicos e aparelhistas?
Se o médico na poeira do passado está!
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Quanta hipocrisia – clama Hipócrates,
Quanta incultura – reclama Castro,
Couto não aprova o sistema nefasto
Que a doença agrava e causa mortes.
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Se o paciente é celebridade,
Para assisti-lo, médicos mil…
Se é pobre, tratamento vil…
Neste sistema de perversidade.
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O humanismo da medicina desertou,
Para o comércio da doença prosperar.
O indivíduo é apenas peça segmentar
Em mãos que lhe desdenham a dor.
∞ • ∞
De convênios acata o profissional
O preceito mais ordinário:
O estipêndio é tabela e não honorário!
Subverte-se a honra nessa incúria monumental…
∞ • ∞
Se comemorar é manter a memória
De lembranças vivas do que já não é,
Comemoro a medicina que despertava fé,
O Humanismo – do médico passada glória.
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Não quero laurel, nem ufania!
Se um no conforto convalesce,
Outro no desamparo padece,
Como hei de festejar esse dia?
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Salvador, 18 de outubro de 2001
Castro: Francisco de Castro
Couto: Miguel Couto
Humanistas, literatos. Primazias da cultura médica.
Mestre Fernando Guedes,
Perfeito!
Peço a sua autorização para divulgar em jornal local.
Prezado amigo Mosca,
Obrigado pelo seu comentário. Tem a minha permissão para publicar.
Abraço-o.
Fernando
Não restam dúvidas de Fernando Guedes assume a literatura como ficção e experiência de maneira indissociável. Nesse sentido, sua escrita passa a ser o testemunho de um sujeito que arrasta toda carga afetiva para o poema, tendo como critério de legitimação tudo o que vem do vivido, criando assim uma unidade apaixonada entre a obra e a vida. No entanto, convém ressaltar que esse vivido não se refere à construção de uma obra com a matéria da própria vida do poeta, como acreditavam os românticos, mas no sentido do poeta trágico moderno rimbaudiano em que o Eu é um Outro e a arte poética um encontro explosivo de vida e poesia, isto é, uma arte que nasce “do choque duma sensibilidade sólida ao contato com a realidade”.