set 12, 2009 - Poligrafia    No Comments

Terrorismo ou Guerra?

wtc_005Há oito ano, precisamente, este artigo foi escrito, no dia seguinte ao atentado, em 11 de setembro de 2001, ao World Trade Center… O Iraque foi arrasado, Sadan Hussein foi enforcado, milhares de soldados americanos foram mortos, Osama Bin Laden alapardou-se … O mundo continua o mesmo…

Em um dos seus patéticos pronunciamentos à nação Americana, o Sr. George W. Bush disse que o ataque terrorista contra o World Trade Center e o Pentágono será tratado como ato de guerra. Há pouco, fizeram-lhe uma análise do QI e não encontraram coisa auspiciosa. Portanto, não vamos exigir-lhe, no calor da tragédia, melhor atitude. Mas, sendo ele quem é, chefe da hegemonia imperialista dos tempos modernos, sua sentença dá direito a quem analisa o fato, com o pensamento fito na história, admitir que os milhares de camponeses vietnamitas queimados com napalm (gasolina gelatinizada e espessada por sais do ácido naftênico e palmítico) americano, nas suas pacatas aldeias, foram vítimas de ato terrorista e não de guerra. Que os milhares de idosos, mulheres e crianças iraquianos massacrados, no recesso de suas residências, pelos mísseis ianques também o foram.

dresden100Que dizer da noite de 13 de fevereiro de 1945, uma inesquecível terça-feira de carnaval, quando a Florença do Elba, Dresden, cidade cultural, sem qualquer importância bélico-estratégica, foi devastada em 56 minutos, por milhões de toneladas de bombas explosivas e incendiárias? Em 56 minutos, cerca de 250 mil vítimas! Guerra ou terrorismo?

Será precisa dizer alguma coisa sobre os dias 6 e 9 de agosto de 1945, quando Hiroshima e Nagasáqui foram desnecessariamente arrasadas por explosões atômicas?  Terrorismo ou guerra?

A diferença é pouca, porque as filigranas sociológicas e políticas que separam o terrorismo da guerra acabam no efeito que moralmente os unem: a violência. O terrorismo, para mim, é a guerra de poucos; a guerra é o terrorismo de muitos. O terrorismo é guerra solitária; a guerra é terrorismo coletivo. Nada mais…

O Chanceler alemão disse: “O atentado terrorista aos Estados Unidos é uma declaração de guerra ao mundo civilizado.” Desconheço qual seja o conceito de civilização desse tedesco, mas certamente não lhe serve para qualificar a orgulhosa Alemanha da década de 1940. Ou será que a Alemanha só civilizou-se depois de 1945? Não o creio, e, no entanto, ela produziu o holocausto de milhões de judeus, em nome da civilização. Guerra e terrorismo?

O Primeiro Ministro inglês, interrogado por jornalista, retrucou: “Esse atentado é uma agressão à democracia mundial”. Será que ele pensa o mesmo acerca do massacre que Israel, armado e financiado por sua ex-colônia da América, perpetra contra seu antigo Protetorado, no Oriente Médio? Terrorismo e guerra?

Ouço, pela televisão, a Sadan Hussein, sobre o mesmo ataque terrorista, e me coloco diante de um terrível paradoxo: sua opinião se me afigura a mais sensata: “Quem não quer colher o mal, não o deve plantar”.

Não é outra coisa senão o mal que as nações hegemônicas têm plantado, pelo mundo afora, engendrando a guerra (terrorismo coletivo), ou o terrorismo (guerra solitária), quando isso lhes interessa. Quando o interesse dos Estados Unidos era combater tropas russas, no Afeganistão, Osama Bin Laden era conveniente aliado: apoiaram-no.  Quando, igualmente, seu interesse era combater o Aiatolá Khomeiny, armaram e apoiaram a Sadan Hussein. Essas tétricas figuras eram, outrora, bons instrumentos de guerra. São, hoje, detestáveis instrumentos de terrorismo. Não obstante, Hussein e Bin Laden continuam sendo o que são, ou, aliás, o que sempre foram…

É oportuno relembrar o que Pancho Villa respondeu a um americano, contrabandista de armas, que lhe quis dar lição de moral: “Gringo, você é uma pessoa estranha… Condena-me por matar a quem odeio, mas vende armas para matar a quem nunca odiou”.

Desde que as formidáveis imagens desse atentado contra os ícones do capitalismo estúpido e do militarismo imperialista foram divulgadas, tenho ouvido as mais ridículas análises sobre ele. E o que mais se afirma é a dureza da retaliação que virá. Eu, de mim, estou certo que não será mais dura do que sempre foi, porque Dresden, Hiroshima e Nagasáqui não terão, na catástrofe, rivais. Será, sim, mais tecnológica, mas igualmente cruel, contra quem não se odeia. Milhares de pessoas comuns, que nada têm a ver com essa estupidez, perecerão, no solo do rival elegido, como igualmente pereceram as que se encontravam no World Trade Center. A diferença é simplesmente tecnológica. A estupidez, contudo, será a mesma.

A OTAN declarou que um ataque contra um dos seus membros é um ataque contra todos os seus membros. Isto para mim é apenas saudade de guerra, sua especialidade. É o salvo-conduto que elas, as nações dessa prepotente aliança, precisam, para eliminar os que atentam contra essa coisa absurda, que elas denominam de “democracia” mundial, isto é: dar à violência aparência de ato legal.

Fernando Guedes

12/09/2001

Got anything to say? Go ahead and leave a comment!


Deprecated: Directive 'track_errors' is deprecated in Unknown on line 0