set 12, 2009 - Poligrafia    No Comments

Ricos e pobres, como sempre…

Nosso céu tem mais estrelas… Nossos bosques têm mais flores… Nossa vida tem mais amores… Achamos-nos donos do cruzeiro do sul! É o velho ufanismo, já explícito no documento no. 1, a Carta de Pero Vaz de Caminha: “a terra em tal maneira he graciosa que querendo a aproveitar, darseá nela tudo…” Más, há o novo: o pré-sal salvará a Pátria: educará a massa ignara; empregará os desempregados; acabará com as filas nos hospitais; redimirá os pobres; edificará moradia para quem a não possui. Reinventará, enfim, a nacionalidade… Fará surgir, na vida de um sem numero de brasileiros, a cidadania, que nunca passou, para eles, da letra morta do preceito constitucional.

Há 300 quilômetros da costa, numa profundidade abissal, estendendo-se do Espírito Santo a Santa Catarina, jaz a riqueza redentora: o petróleo do pré-sal! Descoberta, feitas as primeiras sondagens, logo atiçou as visões desmedidas da vanglória, dessa classe especializada em desperdiçar recursos e oportunidades. Assim na Colônia, ultrapassou o Império, para se agravar na República. Foram-se, debalde, pau-brasil, a madeira de lei, a cana-de-açúcar, café, borracha, cacau; o ouro, o diamante, e… tantas outras que já nem sei. As riquezas minerais (de Carajás etc.) e os recursos por elas gerados não sabemos a que serviram.  Mas, continuamos fieis ao velho bordão: somos o país do futuro: essa ficção temporal que nunca chega, porque deixa de ser quando começa a existir. E não nos preocupamos com o que realmente conta: o presente, onde tudo ocorre. Neste é que se enfrentam as conseqüências da pobreza, da deseducação, do não acesso aos meios básicos de uma vida digna; que se padece; que se estiolam as gerações. Porém, a elite ufanista que nos governa só fala do futuro… porque já assegurou a tranqüilidade do seu próprio presente.

Um projeto de lei foi encaminhado, pelo governo, ao Congresso Nacional, em regime de urgência, para criar novas regras ao chamado “marco regulatório do petróleo”: em vez do regime de concessão vigente, a riqueza, acha o governo, deve ser explorada sob regime de partilha, controlada por uma nova estatal, que será criada.  Têm os senhores congressistas noventa dias para o apreciarem e decidirem. Senadores e deputados, contudo, consumidos em estafante trabalho parlamentar, coitados, acham pouco o tempo que lhes foi concedido: afinal eles se preocupam muito com o futuro, o próximo: 2010… Ontem um deles, em face da confusão que se estabeleceu na votação de destaques, no projeto de reforma eleitoral, sem saber que o estávamos ouvindo, pela TV, disse: faz tanto tempo que aqui não se vota nada, que desaprendemos a votar.

Mal começou a apreciação no novo regulamento do petróleo, uma sucessão bombástica de argumentos e contra-argumentos, de ataques e contra-ataques, de tediosas dissertações “técnicas”, veio, sob medida, para desviar a atenção da crise de Senado, do que já não se fala mais… Recolheram-se os quixotescos cartões vermelhos; já não se pronunciam mais sarneynárias, já não se pede mais a sua renúncia… Tudo está dominado: comportem-se, porque aqui não há santo, disse um deles, ameaçando divulgar o subterrâneo onde se forjam atos secretos… Outro, em crise aguda de permanente ufanismo, não se cansa de dizer que este é o melhor Senado de toda a história; que eles, Senadores, são os pais da Pátria. Não declinou quem são as mães, que não é difícil deduzir, pela prole…

Brava senadora acriana, que propaganda eleitoral a qualifica como uma das pessoas capazes de salvar o planeta, sufocada no exíguo espaço político governista, deixa o partido onde se notabilizou, para ir-se juntar aos “verdes”, onde florescem Zequinha e Gabeira, antípodas dessa política esquizofrênica… Outros, três, vivem em guerra declarada com o seu partido, mas não o deixa… Chegam a dizer que são do velho MDB, de Ulisses e Teotônio, num ufanismo contrário: do passado superado, há muito, pelo presente.

Os governadores, dos ditos Estados produtores, logo entraram em cena, para garantir o seu quinhão: foram ao Planalto, pressionaram, e conseguiram retirar do texto o que lhes não interessavam. Isto aguçou a cobiça dos outros, dos Estados não produtores, que logo justificaram: a riqueza jaz a mais de 300 quilômetros da costa, portanto não é deles, é da nação e, por isto, deve ser repartida com todos, igualmente. Como é a maioria, um deles advertiu: é bom negociar, porque no cabo de aço (deve ser um regionalismo pernambucano) nós venceremos!

É isso aí: essa gente preocupadíssima com o futuro do Brasil traçará, com toda a certeza, destino da presumida riqueza: os ricos continuarão ricos e os pobres continuarão pobres, como sempre…

Fernando Guedes

11/9/2009

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