nov 12, 2010 - Poligrafia    1 Comment

Retalhos

A diferença

Aqui, a prática institucionalizada, com a República, é a dos governantes não assumirem a responsabilidade por seus fracassos… Loteados os cargos, que nem sempre são assumidos pelos melhores, para atender a interesses subalternos da tal governabilidade… Emperram-se os programas, sempre feitos de afogadilho, sem visão de longo prazo, no lamaçal da burocracia e da corrupção. Daí o analfabetismo, a desestruturação da saúde pública, a criminalidade sem controle, a precariedade da infra-estrutura… Pasto virente para o populismo, de que decorrem medidas assistencialistas, para corromper ainda mais e manter o ciclo vicioso ajuda-voto. A culpa será sempre das crises externas, da oposição raivosa, da herança maldita, enfim dos outros. Vão-se os quatriênios, conquistam-se outros, com as mesmas práticas, e ninguém se culpa por nada…

Lá, no norte, a diferença… O Presidente, depois de uma constrangedora derrota nas eleições parlamentares, que lhe causará imensas dificuldades com o Congresso, foi a público e se culpou, a si mesmo, por não ter sido capaz de cumprir, com eficácia, os planos e as reformas anunciadas na campanha eleitoral. Agindo como estadista, embora neófito, o Presidente americano teve a exata compreensão do seu papel, da gravidade da sua responsabilidade, que não transfere, quando fracassa, para a oposição!

A morte santifica

É impressionante o efeito da morte sobre o inconsciente coletivo brasileiro… Cria ela tamanha reviravolta nos sentimentos que, em fração de minutos, se opera a transmutação radical dos contrários. Na política brasileira, o fenômeno, que antropólogos, sociólogos e psicólogos ainda estão por desvendar, é tão acintoso que chega à beira do ridículo. Lembra-se de Getúlio? Recolheu-se, naquela fatídica noite, totalmente fracassado, sem nenhum apoio, atolado, como ele mesmo disse, num mar de lama. Bastou um tiro no peito para se transformar no pai da pátria! O povo, aquele mesmo que não fora capaz de mover uma palha, em seu socorro, agora movia montanha, para vingar-lhe.

A indiferença, que paralisava o povo, transformou-se, em minutos, na violência do quebra-quebra, na expulsão dos “responsáveis”, no clamor diante da serenidade do cadáver…

Em seção do Senado, assistimos à exaltação póstuma de Romeo Tuma, movida por esse sentimento estranho, capaz de transmutar os contrários. Houve quem o comparasse a São Francisco de Assis e, logo, num processo sumaríssimo, pulando o estágio da beatificação, o santificou. A sua família, de tão virtuosa, faria inveja à Sagrada. Fico a imaginar como será o necrológio de Sarney… Deus que se cuide!

Dois juízos…

Uma Dilma, a da campanha, insegura, irritada, gaguejante, sem plano concreto, com idéias vagas, se esquivando de perguntas comprometedoras. Como podia não ser eleita: juízo desfavorável, o primeiro.

Outra Dilma, a eleita, segura, tranqüila, fluente, com plano concreto, focada… A tudo respondendo, sem se esquivar. Agora, presidenta eleita: juízo favorável, o segundo.

Em capa de revista semanal, ela em pose de presidenta empossada… Deturpam-se os fatos, pela impostura: já Dilma, malgrado a Princesa Isabel, a primeira mulher a governar o Brasil…

Para Mayara, baianos…

Tenho acompanhado, pela mídia, a polêmica que causou a declaração depreciativa da estudante de Direito Mayara aos nordestinos, e, sendo nordestino sertanejo, não me senti, de modo nenhum, ofendido pelo impropério. O que deduzi da declaração dessa moça foi a sua precária educação doméstica aliada à sua rudimentar formação humanística. Não sei em que faculdade de Direito ela estuda, mas dá para perceber que não deve ser lá boa coisa… É claro, também, que os ensinamentos de humanidades passaram batidos pelos neurônios dessa senhorita. Ela, antes de ser uma preconceituosa presunçosa, é uma vítima dessa deseducação que grassa no país há muitas e muitas décadas.

Fazer a apologia do Nordeste, para contrapor a visão tacanha dessa doidivanas, diminuindo o Sul, seria também um preconceito estúpido. Acho mesmo que estão dando atenção demasiada a quem jamais compulsou páginas de Ruy Barbosa, de Joaquim Nabuco, de Clovis Beviláqua, de Pontes de Miranda, de Evandro Lins e Silva, de Sílvio Romero, de Tobias Barreto, de Teixeira de Freitas etc., só para ficar no campo do Direito.

O nordestino sabe o papel que lhe coube na formação e no desenvolvimento da nação. Essa senhorita o saberia se fosse boa estudante de história. Aliás, se o fosse, saberia mais: que o melhor do nordeste foi generosamente oferecido aos outros Estados, para o bem, de todos.

Certa feita, numa reunião social no Rio, uma presunçosa carioca inquiriu certo baiano:

– O senhor fala tão bem dessa Bahia, elogia-a tanto, então, por que a deixou e veio para o Rio?

A resposta do baiano foi mordaz:

– Porque lá todos somos baianos, é mais difícil de vencer!

Doutra feita, a dona de uma casa de pensão nas Laranjeiras, onde estava hospedado outro notável baiano, Dr. Antônio Ferreira França, filósofo, matemático e médico, na presença dele, pergunta a uma escrava se limpara o “baiano”, no rio… Referia-se ao urinol ou pinico. Fingindo atentar no Dr. França, pediu-lhe desculpas:

– Perdoe, Senhor doutor, aqui chamamos a estes vasos “baianos”…

Doutor França, percebendo a hipocrisia da carioca, respondeu-lhe, baianamente:

– Está certo, senhora… Quando os tais “baianos” estão cheios, vaza-se o conteúdo deles no Rio…

Fernando Guedes

1 Comment

  • A pseudo-estudante de Direito ( ou seria “direito”, com d minúsculo mesmo, tal a sua pequenez diante da Cultura? ), deveria ler sua crítica, e sentir quão infeliz foi o seu comentário, mal sabendo ela que, com o suor dos nordestinos, construiu-se a riqueza do Sul maravilha!

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