jun 6, 2010 - Poligrafia    2 Comments

Patriotismo de Futebol

Auriverde pendão de minha terra,

Singular esta nossa Pátria amada, idolatrada, brasileira… Já no Hino o ufanismo: nossos campos têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida mais amores… O Cruzeiro do Sul é nosso… Deus é brasileiro… Enfim somos a Pátria mais feliz do universo!

Que a brisa do Brasil beija e balança,

A Bandeira, a positivista, também dela se ufana: o amarelo, que antes simbolizava a Casa de Habsburgo, da Áustria, a que pertencia nossa Imperatriz, D. Leopoldina, virou uma representação do ouro, que já não existe. O verde, da Casa de Bragança, a do nosso Imperador, D. Pedro I, é a exuberância das nossas matas. O azul, que antes não havia, símbolo do firmamento, transformou-se numa homenagem a N. Senhora, a mãe de Deus, o brasileiro número 1. A advertência de como se devia cuidar e desenvolver o colossal patrimônio que Ele nos deu, Ordem e Progresso, é vã esperança que com ela tremula.

Estandarte que a luz do sol encerra…

Passam-se os dias, vão-se os meses, terminam-se os anos… Queimam-se as matas, para fazer carvão, na mais estúpida e corrupta atividade econômica que se pode imaginar; a vida, aqui, se valor já não tem, é porque não tem tantos amores assim. Vede a violência, o cuidado que se dispensa à infância, nas esquinas abandonada, prisioneira da miséria e da droga; vedes a atenção que se dá à saúde pública, nos hospitais, nos ambulatórios, onde tudo falta: remédio, leito, educação, compromisso… Vede em que prioridade se tem a educação pública, essa produtora de analfabetos funcionais; observem as escolas, aonde se vai para matar a fome do estomago, não a de saber. Têm elas despensa, conzinha, refeitório e mantimentos, mas não possuem livros e computadores…

E as promessas divinas da esperança…

O Hino Nacional, que lástima, já não se canta nas escolas, por isso raríssimos os “patriotas” que sabem seu poema de cor. Quem o escreveu é bom nem falar… Certa vez perguntou-se, numa entrevista de rua, a transeuntes, quem foi o autor do poema do Hino, e a resposta foi a de um patriotismo pop-clássico: Zeca Pagodinho, Fafá de Belém, Donga e Noel Rosa; Carlos Gomes, Ernesto Nazareth e Villa-Lobos… . Não faz muito tempo, um professor de português foi ao encontro das margens plácidas o Ipiranga e se decepcionou com o que viu. Pediu a estudantes, que visitavam o Museu da Independência, que identificassem o sujeito nos versos: Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante. Indeterminado (alguém), para uns; D. Pedro e sua comitiva, para outros. Todos (100%) errados!

Tu, que da liberdade após a guerra,

Mas os “patriotas” continuam deitados eternamente em berço esplêndido… esperando a Copa do Mundo, efeméride de suma importância para o seu civismo, que o desperta dessa letargia que o consome. Relembram a Bandeira e o Hino. De verde e amarelo colorem tudo: casas, repartições, escolas, ruas… Mas, como sua memória é fragmentária, esquecem que o azul integra as cores nacionais, e a deixam de fora de sua aquarela patriótica. O desenho da Bandeira é reproduzido nas mais ridículas coisas: lata de cerveja, vaso de refrigerante, boné, mochila, saída de praia, calcinha, viseira… Nos aeroportos, nos aviões, nos bares, nos restaurantes, em qualquer lugar o que mais se vê é esse “patriota” com sua camiseta auriverde. Eis no que se resume, hoje, o civismo brasileiro…

Foste hasteado dos heróis na lança,

Enquanto a Copa do Mundo não termina, temos que aturar, diariamente, nas entrevistas de jogadores… as “perolas” desse heroísmo tupiniquim, de entrevistados e entrevistadores.

Antes te houvessem roto na batalha

Ah, quase ia me esquecendo: Dos 23 jogadores convocados, pelo técnico, somente três (13,04%) jogam no Brasil. Vinte (86,96%) jogam em times do estrangeiro, ganhando milionários salários… Não farei aqui a comparação entre o salário de um professor (o mais importante profissional de uma nacionalidade), que nunca se ausenta da sua Pátria, com o salário de um desses jogadores, para não cair em ridículo.

Que servires a um povo de mortalha!…

Será que esse “patriota”, que se ufana do “escrete amarelinho”, se orgulha do hospital público em que busca socorro na doença? Da escola pública que educa seu filho? Do transporte público com que se locomove? Da segurança pública que o protege? Da justiça, quando tem que reaver um direito usurpado? Do Congresso, esse cujo expediente começa na terça-feira e termina na quinta-feira? Está satisfeito com o emprego dos impostos que paga? Como parece que de tudo isso se orgulha, que vista então de verde e amarelo, tome um “cervejão”, sopre a vuvuzela e troça… e torça… para ganhar a Copa, que completará a sua felicidade! Terá desfile em carro de Bombeiros, carnaval, feriado, fila para beijar a taça… Todos passarão a idolatrar Dunga, como herói vingador! Assistiremos à pirueta que o Presidente (da República) prometeu à nação… Espero, contudo, que ele não chegue ao sacrifício patriótico de tirar as roupas, como prometeu el cafishio milonguero

Fernando Guedes

5/6/2010

2 Comments

  • Fernando, em relação ao seu texto sobre pedofilia,comungo com a sua visão e digo:Pedofilos entendem a letra da música necessitam de alguém que lhes faça sentir a música.

  • Prezado Fernando Guedes, concordo com você quanto essa verdadeira inversão de ordens. Infelizmente temos ao nosso favor uma imprensa medíocre, inculta e subserviente que contribui fortemente para essa situação.

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