dez 8, 2009 - Poligrafia    No Comments

Conceição da Praia

igrejas-salvador8-010É necessário, antes da homenagem que pretendo aqui fazer, esclarecer… Conceição vem de concepção, ato de conceber; no caso a imaculada concepção de Jesus por Maria. Daí o dogma da Imaculada Conceição, que é, também, nome de invocação da Santa Mãe. A Praia era o antigo nome da Cidade Baixa, à época da fundação, em 1549, em oposição à Cidade Alta, no altiplano da montanha, onde foram instaladas, por estratégia de defesa, as repartições do governo. Hoje, Conceição da Praia é a Igreja, é, também, a festa religiosa mais popular da Bahia (Bahia é Salvador), em que a tradição ainda não morreu (Odorico Tavares), que culmina no oito de dezembro, dia da Santa, com missas, procissão, rodas de capoeira… Uma maravilha de gosto e cor; de fé; de devoção… É no oito de dezembro que se deve armar a árvore de Natal, à espera do dia vinte e cinco, para homenagear o Fruto daquela imaculada concepção.

A tradição vem de longe… D. João I mandou por inscrição na porta da capital do Reino louvando a Virgem, e erigiu o mais belo monumento gótico do mundo em sua homenagem: o Mosteiro de Santa Maria, da Batalha. D. João IV, em 1646, declarou que tomava a Virgem Nossa Senhora da Conceição por padroeira do Reino e que os estudantes de Coimbra, antes de colarem o grau, jurassem defender a Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

Pela bula Ineffabilis, de 8 de dezembro de 1854, o papa Pio IX estabeleceu o dogma da Imaculada Conceição, mas Portugal a venerava, como uma crença, antes de ser dogma. Isto está explícito no ato de D João VI, em 19 de Setembro de 1819, no Rio de Janeiro, criando ordem militar de Nossa Senhora da Conceição.

Muitos, mais capazes, já se incumbiram desse interessante assunto, como Gabriel Soares e Afrânio Peixoto… Transcrevo aqui, como uma contribuição às novas gerações da era da internet, que certamente nunca terão, nas mãos, o Breviário da Bahia (Um dos monumentos da Bahia, segundo Dr. Osvaldo Devay) o capítulo Conceição da Praia, e o faço como uma homenagem à Santa, neste seu dia:

A “Paia” foi o primeiro nome da Cidade Baixa. Daí o nome da igreja, a primeira, uma das três primeiras da Bahia, como as outras duas, da Ajuda aquém da Praça e a do Salvador, no Terreiro de Jesus, nomes das três naus de Tomé de Sousa. A da Conceição, na Praia, destinava-se aos marujos e comerciantes do porto e foi, segundo Gabriel Soares, “a primeira casa de oração e obra em que se Tomé de Souza ocupou”.

A invocação é talvez a mais qualificada da nossa devoção. Nossa Senhora da Conceição foi padroeira de Portugal e foi a do Brasil. Recentemente – até a devoção é sujeita à moda… – destituiu – ou apenas se pretendeu? – a Conceição, pela  Aparecida… Prestígio de São Paulo? Parece.

A primitiva igreja que a tradição dá como construída ou ajudada a construir pelo primeiro Governador, que, segundo Frei Vicente do Salvador para ela fez taipa, com suas mãos, e carregou caibros, nos seus ombros, teria sido de antes de 1550.

Em 1623 seria a capela doada para servir de Matriz à Freguesia da Conceição da Praia. Em 1736 teria sido resolvida a demolição dela para se edificar a atual igreja. Durante as obras, imagens e paramentos foram recolhidos à igreja próxima do Corpo Santo, onde se realizaram os ofícios da freguesia e da irmandade. Fizera esta, rica de prósperos irmãos, encomenda a Lisboa da bela cantaria que reveste por fora e por dentro todo o templo, inaugurado a 8 de dezembro de 1765. Telas, alfaias, paramentos são dignos do belo templo, dos mais elegantes da Bahia. É o templo do comércio da Bahia.

Aí está, na síntese do mais brilhante polígrafo brasileiro, baiano, a Conceição da Praia… Quando ele diz que Conceição foi destituída pela Aparecida, não o foi apenas pro prestígio de São Paulo, foi mais: devoção e projeto político a enganar a crença de devotos incautos, para erigir um símbolo nacional. Transformaram a imagem de Nossa Senhora da Conceição, regatada de um rio, onde permanecera imersa por longo tempo, o suficiente para alterar-lhe a feição, pela deposição sedimentar, em outra santa, que denominaram Nossa Senhora Aparecida, como se Conceição não fora… Ingênuos e aproveitadores estavam diante de uma “santa brasileira”… e o ditador, mais tarde, soube bem tirar proveito desse “símbolo”. Do Rio de Janeiro, mandaram buscar, em Aparecida do Norte, a imagem. Em 31 de maio de 1931, na esplanada do Castelo, que já não existe, Getúlio Vargas beijou os pés da santa, que foi sagrada padroeira do Brasil…

Para mim foi apenas uma pretensão… Como não me deixo enganar, nem por cardeal-político, nem por político-cardeal, a Padroeira do Brasil e da Bahia será sempre Nossa Senhora da Conceição, da Praia.

Fernando Guedes

Salvador, 8/12/2009

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