out 16, 2010 - Poligrafia    No Comments

Brasil inzoneiro…

Há um equívoco nesse superficial juízo de que Lula, esse que aí está, que bebe Romanée-Conti e fuma Partagas, seja o produto de um movimento popular, que, pelo rompimento com o establishment, põe no poder figuras inesperadas… Não, Lula é o produto de outro fenômeno.

Essa coisa das “diretas já”, como um movimento revolucionário, só existe na retórica parlamentar dos Pinheiros Machados do presente. O que aconteceu, naquela ridícula eleição de Tancredo, foi a consumação de traições e de alianças oportunistas. Na última hora, políticos que passaram toda a ditadura bajulando os militares, servindo-lhes com subserviência, se transmutaram, não sei por qual prodígio, em “valorosos democratas” empenhados em salvar a Pátria… Nisto, exatamente nisto, toda a síntese dessa democratização consentida pelas forças militares.

Depois de Sarney, vice de Tancredo, que teve a felicidade de se encontrar com soberana dos sinistros impérios de além-mundo antes da posse, veio Collor, que hoje apóia quem o rejeitou, para engendrar Lula. Ali, no meio daquela elite inconseqüente, estavam FHC e toda a esquerda política e “intelectual”. Hoje, essa mesma elite que fabricou Lula, dando-se conta da rasteira recebida, o rejeita, com inveja dos 50 anos de poder que ele projeta para a sua turma.

Lula, filho do Brasil: nova fraude, de novos integrantes da velha elite… Quererão beatificá-lo, quem sabe arranjar-lhe uma vaga no hagiológio paulista…

Mas, embora sem buscá-la, a encruzilhada se apresenta ao eleitor nesse segundo turno: sendo Serra o segundo candidato da situação, uma espécie de sombra da primeira candidata da mesma situação, prometendo manter todos os programas de Lula, que são os mesmos de Dilma, para que votar nele? Que desgraça política: tanto faz! Serra é Dilma, que é Serra…

Isto, caro leitor, é conseqüência dessa oposição-situação indecisa, pusilânime e covarde que aí está. Incapaz de defender uma bandeira contrária a esses programas assistencialistas, que são, em última análise, fábrica de viciados em ajuda, de incapazes, necessários à manutenção desse sistema estúpido, que estiola a nacionalidade há décadas. Sequer não ouviram o baião de Gonzaga: “esmola ao homem que é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”!

Por que Serra não defende a privatização do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, da Petrobrás, com clareza, e engana com esse discurso transverso que o patrimônio do Brasil deixará de ser do PT e seus apaniguados?

Por que Serra não defende o fim da bolsa-família, essa esmola que escraviza, em troca da criação de postos de trabalho em todo o Brasil?

Por que Serra não defende, com coragem cívica, a descriminalização do aborto? Por que não defende, sem tergiversação, o Estado laico, livre de influencia religiosa, de qualquer credo?

Avanços no SUS; clínicas de especialistas; mutirões de cirurgias de catarata e próstata, eis no que se resume o programa de saúde de ambos. Com isto, com essas citações genéricas, garantem que melhorarão a assistência médica à população. Mentira, mentira de quem não tem necessidade de se amargar nas filas dos hospitais públicos, que eles, políticos no poder, não proveem dos recursos necessários. Adoeceu o presidente, o governador, o senador?  Toma-se avião e se interna no Sírio Libanês ou no Albert Einstein! Por que nenhum deles acredita nos hospitais públicos? Se não resolverem o problema do médico não resolverão o problema da assistência médica nesta desgraçada nacionalidade. Não se resolverá o problema do médico com piso ou teto salarial, com o que políticos já se comprometeram. Somente a instituição da Medicatura Pública põe cobro neste velho problema. Isto implica trabalho em tempo integral e dedicação exclusiva, através da carreira de Estado, eliminando de forma radical essa promiscuidade nefasta entre serviço público e classe médica, onde aquele finge que remunera e esta finge que trabalha. Por que eles não se comprometem com a Medicatura Pública?

Onde estuda filho de presidente, de governador, de senador? E falam em educação! Os analfabetos são 14.000.000, que somados aos “alfabetizados” que não conseguem ler e escrever corretamente e aos que lêem mas não interpretam o que leram, a cifra é imoral. Acrescentem, nesta estatística estúpida, os doutores que não lêem nada e terão o retrato, em corpo inteiro, de uma nação ineducada. Com Serra ou Dilma, no atual sistema político, com sua proposta idiotizante, o Brasil seguirá em frente, como pode e tem seguido até aqui, rindo-se de si mesmo, ou dos seus Tiriricas… Este o verdadeiro Brasil: o Brasil inzoneiro…

Fernando Guedes

15/10/2010

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